quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Até onde ardem as velas?


«…a amizade é um serviço. O amigo, assim como o namorado, não espera recompensa pelos seus sentimentos. Não quer contrapartidas, não considera a pessoa que escolheu para ser seu amigo como uma criatura irreal, conhece os seus defeitos e assim o aceita, com todas as suas consequências. Isso seria o ideal. E na verdade, vale a pena viver, ser homem sem esse ideal?

E se um amigo falha, porque não é um verdadeiro amigo, podemos acusá-lo, culpando o seu carácter, a sua fraqueza? Quanto vale aquela amizade, em que só amamos o outro pela sua virtude, fidelidade e perseverança? Quando vale qualquer afecto que espera recompensa? Não seria nosso dever aceitar o amigo infiel da mesma maneira que o amigo abnegado e fiel? Não seria isso o verdadeiro conteúdo de todas as relações humana, esse altruísmo que não quer nada e não espera nada, absolutamente nada do outro? E quanto mais dá, menos espera em troca?

E se entrega ao outro toda a confiança duma juventude, toda a abnegação da idade viril e finalmente oferece a coisa mais preciosa que um ser humano pode proporcionar a outro ser humano, a sua confiança absoluta, cega e apaixonada, e depois se vê confrontado com o facto de o outro ser infiel e vil, tem direito de se ofender, de exigir vingança?

E se se ofende e grita por vingança, era realmente amigo, o traído e abandonado?»

“As velas ardem até ao fim” de SÁNDOR MÁRAI, ed. D. Quixote

2 comentários:

Áurea disse...

" As velas ardem até ao fim"
Com Paz, Fé, Amor e Esperança
Ficará muito Feliz
Quem esses quatro Dons alcança

Tudo isto p´ra dizer
Que todo o Bem te desejo
Que fixe nos termos conhecido
Daqui te envio um beijo

Beijo com Sabor a champanhe e passas da PASSAGEM...
Entra com o pé direito.Será bom!!!!!
Pensei sempre que os pés eram iguais, depois desta expressão fico baralhada....
BJO
Áurea

Jaime Martins disse...

Bom dia!
Um afecto em troca de recompensa, não vale nada! Aliás em minha opinião, isso tem outro nome!
A aceitação do erro do outro, deve fazer parte integrante da genuina amizade. Afinal, se aceitamos o nosso erro e vivemos com ele, porque razão não o fazemos com os que são merecedores da nossa amizade? No entanto a amizade, para ser genuina tem que ter dois sentidos: Dar e receber. Não dando para receber, mas recebendo porque se dá. E quando a amizade atinge esta maturidade, nada a destroi. Pode ser abalada, mas não destruída. Se uma amizade se desfaz, não era suficientemente madura. E se o sentimento que fica é de sede de vingança... então a amizade nunca existiu! Foi apenas um reflexo, ou um interesse escondido!
Claro que muito mais haverá para dizer sobre este assunto. É um dos encantos da amizade... é uma fonte inesgotável de emoções, que vale sempre a pena viver!
Um bom ano, cheio de amizade!