quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Hanna Arendt








Hannah Arendt, teórica política alemã,apelidada de filósofa, mas que o rejeitava, foi aluna de Heidegger. Foi várias vezes presa pelos nazis.
Heidegger era fiel ao nazismo tendo inclusivé se filiado no partido.
Isso não os impediu quer de se admirarem enquanto filósofos, quer de terem tido um envolvimento amoroso.
Li em tempos um livro "O Último Encontro". Foca aspectos deste relacionamento tuultuoso e gostei imenso. Recomendo.

É dela este pensamento :

"Quando a bondade se mostra abertamente já não é bondade, embora possa ainda ser útil como caridade organizada ou como acto de solidariedade. Daí: «Não dês as tuas esmolas diante dos homens, para seres visto por eles». A bondade só pode existir quando não é percebida, nem mesmo por aquele que a faz; quem quer que se veja a si mesmo no acto de fazer uma boa obra deixa de ser bom; será, no máximo, um membro útil da sociedade ou zeloso membro de uma igreja. Daí: «Que a tua mão esquerda não saiba o que faz a tua mão direita.»

(...) O amor à sabedoria e o amor à bondade, que se resolvem nas actividades de filosofar e de praticar boas acções, têm em comum o facto de que cessam imediatamente - cancelam-se, por assim dizer - sempre que se presume que o homem pode ser sábio ou ser bom. Sempre houve tentativas de dar vida ao que jamais pode sobreviver ao momento fugaz do próprio acto, e todas elas levaram ao absurdo.

Hannah Arendt, in 'A Condição Humana'

4 comentários:

Jaime Martins disse...

Interessante esta perspectiva, de que a bondade, se ostentada, deixa de ser bondade! Não posso estar mais de acordo. Penso também que é inerente à própria condição humana, a tentação de mais tarde "cobrar" a bondade que hoje se faz... è por isso que recomendo a dádiva de sangue! Pode estar em causa a maior bondade que se pode dar a algém: A própria vida! e sem qualquer hipótes e mais tarde "cobrar". É verdadeiramente fazer bem sem saber a quem. Orgulho-me de ser dador de sangue. Considero um exercício que reflecte este pensamento de Hannah Arendt é sempre com grande alegria que o faço. E volto a recomendar!

Leonor Lourenço disse...

Obrigada Jaime pela sua participação. às vezes a bondade tem limites... no tempo. Veja só que sou dadora de medula óssea desde há seis anos e nunca apareceu ninguém compatível... somos mesmo únicos!
E porque digo que pode ter limites? Refiro-me ao tempo, porque infelizmente atingi a idade permitida para ser dadora. Já não sirvo :( A partir dos 45 começa a ser uma idade em que é problemático para quem a vai receber...
Mas obviamente que brinco com isto, porque há sempre modos de auxiliar e eu também tenho algumas, mas como concordo com o que Hannah Arendt diz, vou-me remeter ao silêncio :)
Quem é novo avance e seja dador de medula.
Ou então de sangue, claro! Aí ainda servimos :)

Sonia Schmorantz disse...

Gostei muito deste texto, coisas que a gente aprende: ser bom não precisa de demonstração pública, isto fazem os políticos, não os bondosos...
beijos

Leonor Lourenço disse...

Sónia
Muito gostaria de postar mais coisas deste género, mas o tempo é tão escasso, amiga... nem imagina como tem sido a minha vida: Em Portugal a vida de professor tem sido de "corda ao pescoço". Estou aqui, mas já me levantei antes para trabalhar no computador... Depois, também é certo sou uma pessoa que gosto de estar envolvida em outras coisas sem ser só profissão.
Todos os sábados tenho formação e já estou a a trabalhar nisso...
E saudades de ler um bom tempo seguido, nem fale!
Ando com os "nervos à flor da pele"...
O blog tem sido o meu escape...mas gostaria de me dedicar mais a viver.
Anseio por um pouco mais de tempo para mim e ao que gosto e também preciso. Beijinho que tenho de continuar...